segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quem mandou acreditar em Papai Noel?


Não bastasse aqueles olhares de "eu quero,mas não posso",encarava agora a sensação de impotência.
-"Se eu nasci para refazer o que destruí,se estou aqui para cumprir a missão que me cabe,por que dela não me lembrar por inteiro?"
Carregava as visões de seus primeiros anos. A sensação de que naquelas festas,sobrava. As provas que fazia consigo para testar o quanto era profunda sua invisibilidade. Pense que reprovava? O mestre dentro de si escancarava sua alta nota de solidão. Denunciava com seus olhos a insignificância a que estava submetida. Ou submetera-se?
Naqueles tempos nasceram as vozes que a acompanhariam em cada grau dos momentos de ser invisível.Como quem incontestavelmente desacredita em sinais de reação,acolheu aos falantes.
Até reagiu. Passou a observar com esforço tudo que agradava aqueles tantos olhos. Semeou esperanças de ser notada.De aparecer em uma ou outra cena que mudasse o rumo de qualquer daquelas histórias.Acabar com aquele esconderijo forçado da falta de amor. Sair à luz,por tantos caminhos. As buscas,as perguntas,as aparências e os cuidados que pareciam ser o fim do labirinto.
Nada disso a resgatava daquela força que a puxava para o centro dos bastidores, o lugar privilegiado para assistir as festas da vida sem dela participar. Não conseguia ensaiar,não sabia fingir, resignara-se a ficar com olhos frustrados aceitando os grilhões de quem produzia o espetáculo.
Teria estado de acordo que fosse assim quando adentrou o teatro? A raiva de não se lembrar corroía-lhe. Mas por enquanto,nada poderia fazer. Domava as feras com o torpor das luzes artificiais. Aquelas,que lhe cegavam as vistas quando por algum momento apareciam no descerrar das segundas cortinas.
Nem platéia,nem atriz. Apenas o limite.
Caminhar,sem olhar. Produzir,sem ver. Encenar sem nem ao menos ter conhecido direito o seu papel. Juntar fragmentos. Apresentar-se sem o público. Viver...sem que sentisse o alívio de poder encerrar aquele tão vulgar ato de não se conhecer ainda por inteiro e não poder ainda,dar-se ao luxo de ouvir palmas ao final.

3 comentários:

Ed Bianco disse...

Josi, e vc ainda tem coragem de dizer q eu escrevo bem?
Blog lindo esse seu.
Teus textos são ótimos.
Estou visitando de novo, e virei muitas e muitas vezes.
Beijão

Ed Bianco

Leandro disse...

Voltarei aqui mais vezes.

ana. disse...

Tempinho que eu não vinha aqui, incrível como eu sempre saio com a sensação de que tu escreve leve, sabe?

Gosto muito.

Beijos.