sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Prece em Contradição.

Está tudo errado, confusamente distante do alcance de qualquer compreensão. Eu tenho as peças e a consciência, eu pedi Sabedoria e a busquei, Eu reli as escrituras e procurei entre os homens caminhos daquela pureza um dia anunciada,como possível e palpável.
De palpável, apenas meus rascunhos. Sensações que acumulei vida real afora,vida virtual adentro- desta solidão que consigo sentir em todos aqueles que converso e que por Deus, como eu gostaria de remediar.
Dar-lhes os ouvidos já não basta, há naquele oco interior- o eco de uma pessoa que se desconhece,e por desconhecer-se,perde-se mais. Há mapas e nunca acasos, tudo está estreitamente enlaçado neste Universo que oprime,e exprime. E também expande. Mas poucos Encontram.
Da expansão é que se nutrem nos olhos, com uma esperança, ainda que parda e mal caracterizada em tantos Filhos de Deus.
Eu Sou a Filha dEle. Filha avulsa, que retruca e lastima a injustiça humana, mas a que Preserva em todo Seu ser,o Amor de Seu Pai.
O que mais fazer,Senhor, para ofertar esta Luz que me lançastes quando ainda havia trevas? Por que duvidam? Escrevo palavras, respondo em diálogos, interajo nos espaços e tempos que me cabem enquanto me permites. E o que dizem? Você é Lúcida e de Opinião.
Lucidez e Opinião que nunca senti tão extremamente desperdiçadas, que as busco junto ao amor, e me oferto com carinho para que faças em mim,Segundo a sua Vontade. E que a Vontade não me faça perder dos mais intrínsecos propósitos. Teus,Meus, Nossos. Que não me torne a perder das presenças que tanto quis pra mim. E, com todo respeito, Tu me negaste.
Que tenhas os teus motivos,não duvido. Mas repito: Que eles não me levem a perder. Perder-me de mim,de Ti, de tudo que por esforço trancei em minha mente,corpo e espírito. Que não me Faças perder aquele breve acender,ascender ao que ontem fui, descender sempre do impossível que ainda posso ser. Se podes me fazer perder, leva-me desta indignação, disto que dói e não encontro remédios em manuais, deste temor, e ausência de resposta e sentido que vez ou outra me limitam a te questionar. Que eu não esqueça nunca,na ferida aberta,e também no alívio concedido, o quanto inquestionável És Tu. -Absoluto.
E me disseram que amanhã o dia novamente irá surgir,com o Sol abrasador e quem sabe a chuva no final de uma tarde em que fiquei inerte. E Tu ,em tantos solos, plantastes as tuas Mudas.
Muda estou,Muda estarei, e aqui me recolho ao desaconchego de meus pensamentos desencontrados.
Piedade,Senhor. Amar,apesar de tudo, é o sinal que acabam de me acenar. Se sou Capaz,Senhor, Apenas Tu o sabes. Perdão, E que assim seja. E que Estejamos juntos quando os céus se abrirem...Amém.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quem mandou acreditar em Papai Noel?


Não bastasse aqueles olhares de "eu quero,mas não posso",encarava agora a sensação de impotência.
-"Se eu nasci para refazer o que destruí,se estou aqui para cumprir a missão que me cabe,por que dela não me lembrar por inteiro?"
Carregava as visões de seus primeiros anos. A sensação de que naquelas festas,sobrava. As provas que fazia consigo para testar o quanto era profunda sua invisibilidade. Pense que reprovava? O mestre dentro de si escancarava sua alta nota de solidão. Denunciava com seus olhos a insignificância a que estava submetida. Ou submetera-se?
Naqueles tempos nasceram as vozes que a acompanhariam em cada grau dos momentos de ser invisível.Como quem incontestavelmente desacredita em sinais de reação,acolheu aos falantes.
Até reagiu. Passou a observar com esforço tudo que agradava aqueles tantos olhos. Semeou esperanças de ser notada.De aparecer em uma ou outra cena que mudasse o rumo de qualquer daquelas histórias.Acabar com aquele esconderijo forçado da falta de amor. Sair à luz,por tantos caminhos. As buscas,as perguntas,as aparências e os cuidados que pareciam ser o fim do labirinto.
Nada disso a resgatava daquela força que a puxava para o centro dos bastidores, o lugar privilegiado para assistir as festas da vida sem dela participar. Não conseguia ensaiar,não sabia fingir, resignara-se a ficar com olhos frustrados aceitando os grilhões de quem produzia o espetáculo.
Teria estado de acordo que fosse assim quando adentrou o teatro? A raiva de não se lembrar corroía-lhe. Mas por enquanto,nada poderia fazer. Domava as feras com o torpor das luzes artificiais. Aquelas,que lhe cegavam as vistas quando por algum momento apareciam no descerrar das segundas cortinas.
Nem platéia,nem atriz. Apenas o limite.
Caminhar,sem olhar. Produzir,sem ver. Encenar sem nem ao menos ter conhecido direito o seu papel. Juntar fragmentos. Apresentar-se sem o público. Viver...sem que sentisse o alívio de poder encerrar aquele tão vulgar ato de não se conhecer ainda por inteiro e não poder ainda,dar-se ao luxo de ouvir palmas ao final.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ver é sempre ainda...


Eu vi,aquele homem das estradas. Quando passávamos próximos à serra,notei seu andar firme e seguro. Caminhava como quem já havia explorado todos os centímetros do lugar,a vida animal,os perigos,a vegetação,as fontes de água pura e os alimentos mais venenosos. Trazia no olhar a serenidade de um antigo explorador. Atingiu-me no centro da alma com seu silêncio. Como quem respeita a tudo e a todos e guarda por isso,aquela presença silenciosa.
Era uma época em que eu não me reconhecia. Na verdade, estava a me conhecer novamente e a estruturar as pontes a vencer,as pessoas a alcançar,vidas a tocar. Deixei para trás campos imensos, pessoas mil, vales fantásticos de matéria eterna. E agora ouvia clamores daquelas tribos, esperavam de mim um retorno impossível pois eu já não era mais a mesma.
Grandes são os laços que nos unem aos lugares que passamos,e aos seres que nos envolveram. Quando deles trazemos lembranças tão marcadas,é como voltar àquelas vidas cerradas e saber que por trás das aparentes mudanças,das folhas que caíram,dos ciclos que se completaram, ainda estarão lá as grutas que um dia te serviram de abrigo,as enormes árvores de uma existência constante e que são sempre um refúgio. É a volta,é o chão,e não há nada melhor quando se perde o caminho. Olhar para trás e poder ver então,as tuas bússolas.
Mas...quando no instinto do aventureiro os lugares se tornam repisados, a inquietação por explorar novos espaços e poder chamá-los de conquistas- o move. Conhecer,olhar o não visto, tocar o que era intocável tempos atrás, dá para a alma a sensação de crescimento,um aumentar de tamanho que só quem ousa procurar o que há além dos horizontes,é que pode acender no coração a dor e a graça das partidas.
Explorar ,sem tirar proveito. Andar, sem deixar rastros. Alcançar topos sem querer reter as fontes,nem prender os pássaros ou colher flores e sementes que pertençam ao lugar. É a mágica de quem se entrega a viajar para as profundezas da liberdade.

O homem das estradas ainda estava ali. Embora estivesse com suas malas prontas,ainda olhou para trás. E me transmitiu,com um novo olhar,o brilho da absorção de luzes invisíveis. Ofereceu-me gratuitamente a passagem para minhas próprias descobertas e deixou o lugar como quem apresenta pistas para as desmedidas extensões de uma alma consumida pelas inexatas possibilidades de caminhar por si...