sábado, 27 de dezembro de 2008

Receita para uma fuga


Ingredientes:
Sua vida, a vida de outras pessoas.
Livros, obras de arte, músicas e produtos de cerne humano.
Matéria prima de um ser vivo como a ignorância, o ignorar certas coisas, a pureza, a maldade,a bondade, e tantos outros pares de sentimentos opostos e características existenciais.Também opostas.
Instrumentos: É de suma importância uma peneira.
Recipientes: O mundo- Interno e externo.
Modo de preparo:
Agarre-se a uma idéia,causa ou motivo e renuncie ao seu ser mais completo.
Escolha acompanhar apenas uma personalidade e em nome dela,ignore outras. Permita assim,restringir sua visão do conhecimento.E claro, permita ignorar,primariamente,a si mesmo.Seja cópia e esqueça de quem você era quando nasceu.
Ande rápido ou devagar, sempre quando não precisa nem de um ou de outro.
Saiba os momentos errados para fazer a opção certa.
Não se esqueça de deixar de pensar no porquê evitar aquilo que te causa medo.
Se você não pensa, a assadeira permanece untada. 100% de sucesso de seu bolo alimentar crescer.
E bota bolo nisso.
Você dá o bolo no ex colega de trabalho que está atravessando a rua e você prefere fingir que não vê. E também naquele parente que um dia disse algo que te desagradou.
Não podemos esquecer daquele sujeito que não se encaixa nos seus padrões: nem os culturais,muito menos os sócio econômicos.Quanto atrevimento ele existir,não?
E as ocasiões em que você precisava ter atitude,ter uma postura,tomar uma decisão mas não tomou.
O diferente e ignorado dá o ponto exato da massa.
Lave bem o seu ego, e deixe de molho em partes grandes. Se ao peneirá-lo,tiver dificuldade,não insista. É de partes grandes que a fuga se realiza.

Entregue-se. Seja às drogas,ao álcool ou à comida.
É uma medida rápida de acelerar o processo de cozimento.

Siga as receitas. Incluindo a leitura das citações,sem conhecer a obra completa.
Isso acaba com o espírito perceptivo,mas com certeza fará um tempero único de hipocrisia, muito saboroso aos olhos da maioria, e sua receita se tornará muito maior e mais fofa.
Há os que preferem mudar a forma de lugar. Mas também os que nunca mudam,com medo de (se) perderem. Extremos que nem raízes nem asas,salvam da mediocridade. Não importa. Para esta receita , ter superstição também ajuda. É ,afinal,uma outra boa maneira de fugir.
Pegue alguns daqueles dias em que mais precisam de você e por medo,você não vai,sabe? Não fala,não ousa e enxerga até ao desperdício. Mas não usa.
Lembre-se da dica inteligente da cozinha da vovó: Aquilo que não se utiliza...acaba estragando...se passar do ponto de acrescentar,e da quantidade, a massa não vinga.
Refogue as suas mágoas,exclua os nutrientes do recheio e fique com a casca.
Leve ao forno e acrescente uma camada de fixador de máscaras para viagem.
Não tente desenformar e, se for preciso, asse sobre a brasa do carvão.
Firme bem para que não caiam as partes do bolo. Afinal,ele não tem pontas para serem afinadas.E quanto mais reto e enformado,melhor para servir.
Sirva à vontade até que seja tarde demais para que sua consciência acorde.
Espere as visitas deixarem a festa e logo adormeça.
Isso garante o "Grand Finale" de qualquer vida.
(E não abuse demais porque um pedaço de fuga é suficiente para causar indigestão).
Bon'apetit!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Luzes sem brilho...


É fim de ano.
Estamos a poucos dias do Natal e já sinto um certo desespero ao lembrar dos "cumprimentos" que a data exige.
Exige?
Bem, talvez não existam exigências a pessoas que se propõem a ser transparentes e solícitas com a verdade.
Conheço,porém, as intimações que as aparências tanto fundamentam e mantêm,no que chamamos de nosso "ciclo social cotidiano".
Pertencem a ele as pessoas que convivemos. Ou as que nem quase convivemos, mas que julgam nos conhecer o suficiente para darem palpites insuficientes em nossa vidas.
Tantos são os "Feliz Natal" e "Boas festas" que nos chegam de pessoas assim que, por amor ao propósito da data prefiro ignorar.
Porque "cumprimento" é também o ato ou efeito de cumprir uma responsabilidade.
E é uma obrigação moral e espiritual ser coerente consigo, cumprir com aqueles sussurros da consciência que só a gente ouve quando lê e interpreta por e a partir dela, as palavras e ações de Cristo.
Costumamos pensar na suposta "magia" que esta data nos tráz, e como no carnaval é permitido à consciência doses homeopáticas de esquecimento, aqui nos permitem, com a "graça consumista da festa", doses cavalares de indiferença à falta de atuação que plantamos ao longo de trezentos e tantos dias.
O espírito que as pessoas ficam é bonito mas já presenciei que ele pode nem mesmo perdurar até a meia noite.Para que então fingir que durou um ano inteiro a ponto de me fazer desejar felicitações que não sinto vontade nenhuma de desejar? Você já ouviu algo como :"Vamos aproveitar o tal espírito do Natal pra voltar a falar com ele, com ela? Com pessoas que por meses não houve meio de reconciliação?... Hohoho. Papai Noel riria longa e amargamente com tanta hipocrisia.
Como bem citado por meu amigo Marcelo,o Natal lembra livro O Perfume:"Num dia a orgia.No outro todos ignoram os problemas do próximo".
Ao tal inconsciente coletivo(que não acredito tão inconsciente assim) é permitido redimir-se na data do instituído nascimento de Cristo,mas havemos de convir que ser completamente remido envolve a duração e persistência da bondade...
Não esqueçamos das situações que nossa modesta situação econômica de sobreviventes nos coloca e principalmente das crianças que, sem entender o motivo das gritantes diferenças e do "por que não ter aquele presente ou doce que eu queria?", plantam em si grandes sementes de rancor.
Penso que se para cada palavra falada ou para cada aperto de mão dado houvesse uma reação em cadeia que demonstrasse cada omissão cometida ,mentira ou hipocrisia vivida, não faltariam tremores na terra, ou enchentes e respostas de nossa mãe terra para consagrar de vez a "paz na terra entre os homens de boa vontade".
A mim, um basta aos discursos vazios e às vozes silenciadas.
Porque das migalhas das luzes de Natal não se faz consciências livres. (E como não resisto, cito novamente meu amigo Marcelo: Vamos rezar pra dar um apagão no natal? Topa? Rsrsrsrs.)
Nem das hipocrisias póstumas do ano que não é mais novo, se faz vidas autências.
Se neste fim de ano,onde tantos balanços são prováveis e possíveis, para de fato transformar as relações,posso me abster de mentir,assim o faço.
Que o sentimento de Natal seja instalado em nossas vidas diárias e o balanço da virada do ano, a cada noite em nossos travesseiros. Não há maneira mais intensa e verdadeira de alcançar a paz de espírito e a certeza de se ser sinceramente feliz.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

...




Estou aqui sentada e escuto você suspirar com aquele ar de "ah,mas que merda...agora então você resolveu também fazer barulho". E imagino a continuação dos pensamentos: "Já não basta ocupar o mesmo espaço que eu e que toda a minha conveniência desejam só ?Já não basta me apontar os erros e cutucar as feridas?".
-Não,não basta. Eu quero a cura...Mas rio sozinha. Um riso denso e triste.

São lentos e grandes os dias em que nos fizeram conviver. Eles parecem nunca passar. E todas as coisas que não dizemos se prende sob nossos pés. E nos arrastam pesadamente, e doem os ataques ,até mesmo os silenciosos. E tudo se corrói quando a consciência diz que podia ser compreensão.

-Fizeram-nos conviver?
-Não sei.
-Foi eu,ou foi você?
-Não sei. Mas nestas horas gosto de pensar no benefício das escrituras do destino.
É mais doce pensar que um dia,nas estrelas, determinaram que fôssemos viver assim, até cumprir o nosso papel.
-Pois eu espero ansiosamente pelo dia que puder abandonar este papel. Ou qualquer papel, e possa vaguear por entre as tardes sem a tormenta do convívio diário,sem a voz estridente da denúncia.
-Ah,mas não te contaram da co-dependência do claro e do escuro?
-Não,mas eu não vou deixar que me atinja.O seu olhar de desprezo...quando quer estar com a razão, e estampa títulos, conhecimentos, convicções, mas insistentemente não age como prega.
-É,realmente, é pedir demais!
- É pedir demais querer ser louvado quando ao exercer suas funções,por mínimas que sejam,não exerce medidas justas. Sim,é!
-Bom, antes que te disperses, por que não dás vazão à voz que vejo transbordar silenciosa,nos intervalos de suas declarações soberbas?
-Blasfemas!
-Então diga-me, quais os motivos para querer sempre erguer a cabeça acima da multidão enquanto vives interiormente mergulhado nas profundezas da insatisfação?
-Pelo amor de Deus,saiba ousar. Mexa-se!
-Mas que sabes tu que, às custas do comodismo alheio deixa pesar seus ombros com a inquietação de não agir?
-... (Silêncio)
- Detestas a franqueza. E não por acaso ela desnuda suas fraquezas.Que você evita. Que você renuncia. Não vês que é a fim de superar que as evidencio?
- Se você escolhe morrer paralisado,contendo , reprimindo e sufocando quem você é de fato,em nome de manter os velhos padrões,sinto te informar: estás prestes a integrar para sempre a legião dos escravos do ontem.
-Sorte a minha. Eu prefiro integrar a categoria dos escritores do amanhã.
-Mas não são estes os que mudam a ordem dos produtos e alteram os fatores e atrevem-se a ir onde ninguém foi? Isto não lhe soa medonho?
- Ah,meu querido...entenda! A audácia não é mais medonha que a submissão. Enfrentar não é mais assustador que omitir-se.
-Hum,estou com sono...
-Ah, já era de se esperar...e no fim,voltas a dormir.
-É mais fácil,não?
-Enquanto dormes,fico a velar...e a tramar os planos para o crime perfeito de finalmente te ver acordar...
E desesperadamente, volto a sorrir sozinha...
...Não é à toa que dizem pra botar a mão na consciência.

sábado, 18 de outubro de 2008

Ensaio para uma realidade.


-Ela voltou!
-Quem,mulher?Está ficando louca?
-Ora, não finja que não sabe. Você reclamou a ausência porque ela te permitia mover-se. Uma vez até mesmo me disse que sem ela seus dias não seriam mais os mesmos,porque a graça corria o risco de se esvair por entre a mornidão. Esquecestes?
-Ah, sim...lembro-me. Naqueles dias eu até sofria com a ausência . Depois de alguns tempos passados, achei melhor esquecer. Ou fingir. Resolvi conviver com a dívida. A dívida que fiz quando a conheci e nunca mais paguei. Apenas aumentei ,apro-fundei. Me afundei.
- Mas não era preciso ... Sabes que ela perdoaria os teus não feitos. Ela sempre soube dos seus limites e nunca te forçou a ser quem você não É. Sempre,sempre mesmo te estendeu a mão pra voltares a abraçá-la.
-Sim,sei...Mas é com certa tristeza que sinto que a decepcionei. Deixei-me levar pela negligência e a omissão. Não há volta.
- Sempre há volta quando os caminhos ainda existem e as estradas unem dois pontos. Deixe disso, venha vê-la. Está à porta ansiosa por te ver...confessou-me ao ouvido que nunca deixou de te amar e que sabe que fazes parte dela assim como ela de ti. Somos uma família,querido. Não te negues à inquietação.
- É,tens razão. Uma família. Daquelas que nada nem ninguém separa e que a cada queda se fortalece. Só nós sabemos da nossa União. Mas bem,sabemos que ela se foi.E quando partiu,levou junto o meu olhar intenso. Nossos vizinhos costumavam dizer que tinham inveja de nós,lembra-se?
- Claro que me lembro! Mas só você não consegue enxergar que ela nunca partiu e nunca deixou de estar nas bocas e pensamentos daqueles que a conheceram. Ela apenas foi crescer um pouquinho,mas sempre esteve aqui,entre nós, cada vez mais presente e amorosa. É uma filha, querido. Quando nos sai das entranhas, há de levar-nos sempre um pedaço da carne, mas há de deixar sempre um pedaço do espírito.
- E levou... a melhor parte da porção. E deixou,mais que isso.
- Pronto,admitistes. É por isso que te amo,querido. Sempre consegues enxergar a verdade por trás das mentiras que nos contam. É esta voz da essência que mais vale. Desde que formamos esta família soube que nunca a trairia nem deixaria de ouvir...agora vem cá ,dá-me a mão.
-Sim,criatura.Vamos abraçá-la e finalmente cantar ,e viver e amar as coisas e fatos e gestos que há tempos adiamos. Obrigada por me chacoalhar. Não fosse você,eu viveria em estado letárgico por muitos anos afora. Devo-lhe também esta dívida perdoada... Te amo.
-... Nem tudo que por muito tempo dorme está passível de morrer dormindo.
Agora viva,querido. É tudo que lhe cabe ao nos acrescentar a soma de tantos valores.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Tênues linhas...ou : A centrada e insistente garoa.(Tema para uma suposta abstração).



Insistiam pra que levasse o guarda-chuva. -E pra quê?Ela dizia.Se a chuva nem está para cessar e nem para molhar de tudo?
Gostava de andar debaixo daqueles pingos finos e gelados que não a ensopavam,nem incomodavam. Apenas caiam, dando-lhe a sensação de que aquela chuva era a expressão mais bela de um ponto em comum entre as coisas. Um ponto que não era quente nem frio. Nem seco ou molhado, nem grande ou pequeno.
Quantas vezes temera o meio das coisas mas,principalmente das relações e sensações?
Sentia o meio como a conotação ruim da mediocridade. Como se fosse algum pecado não tomar partido algum e caminhar no meio de certas idéias.
Então um dia,descobriu a diferença. Entre tudo,todos,idéias e imaginações.
Existiam tênues linhas que permitiam ter a graça dos dois opostos. Triste era que até chegarem ali,nesta visão,demoraria muito. Mas muito mesmo. Porque a compreensão e aceitação das diferenças e ainda- o elo do comum entre elas- era visível apenas a quem abria as portas de sua sensibilidade.
Inumeráveis linhas,que tantos confundiam e faziam nós em seus novelos de ilusões. E muros. E grades com alarmantes defesas.
Linhas como as que separam o amor da dependência, a sanidade da loucura, a firmeza da estupidez, a força da arrogância, a autoridade do autoritarismo, o bom humor da seriedade. E quais eram os pontos que separavam o homem do menino,a menina da mulher?Bem,estes,talvez,fossem os mais difíceis...
Mas, ...ela agora via o ponto de intersecção. Um ponto que ela guardava na memória quando nas difíceis aulas de matemática conseguira prender sua atenção para apreendê-lo naquelas àsperas palavras do professor,que ela pensava que a perseguia. Era difícil admitir a dificuldade naquela época,mas agora não era mais.
Voltara-lhe à memória este ponto quando de uma oração veio o sentimento de encontro.
"O infinito amor de Deus flui para o meu interior e em mim resplandece a Luz Espiritual de Amor. Esta Luz se intensifica,cobre toda a face da Terra e preenche o coração de todas as pessoas com o Espírito de AMOR, PAZ, ORDEM e CONVERGÊNCIA PARA O CENTRO."Ah,como agora se tornaram claras as coisas.
Aquele centro apreendia aquelas diferenças , que eram origens de tantas brigas e desentendimentos, desordens e desarmonias. Podia guardálo dentro de si e também espalhar como quem cultiva a Nova Terra.
Mas sabia do tempo certo para as plantações.
E continuava a caminhar então, silenciosamente, entre a centrada e insistente garoa que a fazia simplificar tantas abstrações . Entre a liberdade a insistência quanto ao guarda chuva. Que ela humanamente dispensava e divina e secretamente, carregava dentro de si para guardar as chuvas de incompreensões que torrencialmente caíam por sobre ela.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fugas...


Um dia, contaram que ela havia se isolado.
E eu nem dei por falta, pois a convivência resumia-se a secas palavras trocadas em ocasiões que não se podia evitar, por que ah!, todas aquelas que se podiam evitar eram evitadas.
Já não notava mais de qual lado, visto que as ilhas,quando separadas por longas distâncias de mares azuis ou poluídos, já perderamm a noção dos lados.
Só sabia que aquele sol em comum a incomodava.
Se ambas viam a mesma luz, porque uma escolheu olhar para o brilho enquanto a outra insistia em prestar atenção às sombras?
Este incômodo a fazia respirar com dificuldade aquele antigo poder de escolha que lhes foi dado. Não absorvia aquele ar de indiferença, quando as visões que a cercavam insistiam para compartilhar os frutos e as flores que o sol ofertara...Ora!Aquelas sombras impediam que aquela habitante, ao mesmo tempo tão distante e tão próxima, desfrutasse desta gratuidade e beleza das coisas simples e imprescindíveis a sobreviver, ao Viver.
Então Eu recordava as palavras do profético Jeremias: "Que eles procurem você,e não você a eles". Porque minha procura foi intensa e exaustiva. E deixei-me guiar por um amor oracular. Um amor que nunca distinguiu as paredes que os erros e as consequências das preferências do ser amado impunham por entre e através os seres. Esquecia-me que opções alheias vez por outra viravam proibições para seus passos. Mesmo que fossem os mais sutis e rebuscados passos de amor. Não se pode adentrar espaços onde o isolamento fez morada e a fuga, fez-se a maior companheira.
Porque fugir é mais fácil. Mais fácil do que admitir,enfrentar, arriscar e crescer. É mais cômodo não se permitir os conflitos necessários à transformação. É Mais Para Só depois conseguir entender que se conquistou o Menos. Menos sabedoria e Evolução para além do Existencial...Menos lembranças de que se conseguiu ser você mesmo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

...Esvaziar-se

Antes sentia inveja, Era como se os caminhos não percorridos trouxessem aos seus lábios cheios de sede uma penumbra de arrependimento... Era como SE. Pois naquela época apenas não entendia que os caminhos eram únicos, e ficava a fitar as palavras da amiga com a dor de quem não viveu. Ficava a olhar a paz da realização do semelhante como se lhe fosse incapaz chegar até lá. Ficava.
Que sensação inominável a de ficar, como se estivesse parada num ponto do tempo e seu ser retilínio pensava querer virar as voltas que todos que partiam dela experimentavam. Mas qual era a ilusão que não foi preciso mais que a pureza para acordá-la.
Não mais brilhavam em seus olhos o desejo de estar no lugar do outro. Dos outros. Das outras. (As amigas que percorreram caminhos que um dia ela sonhou). De que valiam as fórmulas,as viagens,os certificados e os relacionamentos expostos na vitrine de seus ouvidos? Não eram a vida dela. Porque a vida dela estava junto à calmaria de um gato. Estava junto ao simples, ao caminhar e olhar a estrelas como as formigas no chão. E sorrir com o espontâneo e estar junto aos anônimos.
Quão valiosos eram os anônimos de sua vida! O sucesso,agora... cheirava-lhe mal. E se um dia foi imprescindível, tornara-se agora um descartável vasilhame que ela transformaria em aprendizado. Porque a sabedoria era diferente das informações e do reconhecimento. Era quieta e silenciosa e deslizava por entre os dedos mais inimagináveis e evitáveis possíveis...dos outros. Aqueles outros que rejeitavam a plausível nudez dos simples. A plausível nudez dos pobres e grandes. Grandes,pra ela.
Grandes, para a sua calma adquirida e ainda delicadamente cultivada como um sol insistente que oferece a sua luz aos lugares mais recônditos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Sair da visão.
Era expressamente o que buscava a cada passo naqueles dias apertados, onde a brisa se transforamava em vento gélido e cortante.
Observou as palavras não ditas e viu no afago do irmão, uma ausência.
A convivência revelava quem eram as pessoas e o tamanho de suas almas,seus medos e tempestades. Conviver consigo mesma era a maior revelação de que os tempos eram outros, e a vida deixara o seu brilho inocente para adquirir a luz melancólica de se saber responsável e consciente.Melancólica,mas não infeliz. Melancólica,mas não menos.
Não existia nem melhor nem pior. Nem mais nem menos.Todos eram o fluxo que corre para uma resolução, e a constância determinaria a ligação das raízes ao seu solo de crescimento.
Por vezes,sentia que recuava.
Via ainda as sombras de uma humanidade abundantemente perdida. E sentia-se tentada a perder-se...a voltar aos caminhos sem sentidos que pareciam permitir-lhe ser mais carente e pedinte descarada de amor.
Agora usava uma nova roupagem e os afetos eram pra ela como acessórios de luxo que vez ou outra ela se permitia receber.
Não,não era vítima.
As irregularidades e pormenores que deixaram suas raizes expostas a salvaram deste papel.
Nem era,tampouco, solitária.
Sabia dos que a queriam bem e pediam por sua luz. Então,ingrata também não era.
Talvez fosse estranha....Sim!
Evitou tanto tempo vestir aquela roupa que insistiam que lhe caía bem mas agora...ah!
Todos os ajustes foram feitos.
Sabia que já não pertencia àquela realidade, mas tinha como lição pertencer.
Caminhava então paradoxalmente pelas ruas do real e do suposto "irreal". Contraditoriamente, pelo menos na aparência...no que viam de aparência, pois que pra ela aparentar nada mais era do que Ser, ela...que também insistiam ser tão transparente.
Sair da visão,era o seu maior desejo.
E sentir de novo a brisa soar com leveza num coração renovado por uma nova fé.

sábado, 13 de setembro de 2008

From my best friend...to my blog!

Apanhadão Literário.

Dizem que ler é bom. Que enriquece o vocabulário, abre a mente, nos torna mais analíticos e faz de nós seres mais cultos. Mas acho que em todas as livrarias deveria haver uma placa dizendo: "Leia, mas não perca a sua personalidade, tampouco, sua essência".
Eu conheço e lido com muita gente e posso afirmar aqui sem pestanejar que, como é chato lidar com pessoas que eu nomeio de "Apanhadão Literário". O papo não flui legal. É uma citação literária atrás da outra. Você nota logo de início que o cara não tem idéias próprias. Ele defende teorias, contos, histórias e estórias alheias de forma visceral - não sei o que é mais chato: um cara contando um filme inteiro ou tentando resumir um livro.
Há quem se entupa de informações inúteis e parta para a guerra - o diálogo - e dispara a sua metralhadora de tolices no alvo fácil: o desinformado.
Há também quem, não tendo personalidade alguma, adapta-se à lição de moral que o último livro acabara de dar, esses são os piores.
Somos o que vivemos, não o que lemos. A leitura (quando bem empregada em nossas vidas), apenas complementa.
"Ler é uma verdadeira viagem." O triste dessa viagem é quando o viajante se esquece de desembarcar em si mesmo. ED.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Descobertas...



E havia um dia em que a palavra era a cor.
E deste dia se fizeram outros.
E o sol adentrava-lhe a pele pela janela da personagem,
A vida se debatia no roteiro dos questionamentos,das análises,
das indagações, dos porquês e dos grandes e pesados f-a-t-o-s.
Era-lhe impossível respirar sem a overdose dos extremos sentidos.
As significâncias que carregavam aqueles dias que um dia, ela chamou liberdade.
E é ser livre ver a vida pela lente das palavras e dos outros?
Pecado deveria ser, isso sim...
Não quando a visão fosse o instrumento do aprendizado das profundezas que deparam
o divino- o humano, o sonho e a realidade, o comum e o "extra-ordinário"...
Mas quando os personagens tomassem o posto da vida,o ponto da vida,
onde se encontram os sentimentos e as descobertas pessoais.



Quão belo era a personagem de Guimarães Rosa, a cena de Graciliano Ramos,
Aquela outra reflexão de Machado de Assis e de tantos outros mestres da sabedoria universal que nos legaram a abrir caminhos de consciência...
Mas viveram,para expressar...
Descobriram pela única e expressa oportunidade de serem eles mesmos...
Passaram pelas mesmas esquinas e linguagens de poder que hoje nos cercam, as mesmas ordens e desordens que nos regem...
...a nós...
humanos orientados e des-orientados a viver diante de um sistema transferido por gerações e gerações.
A nós,
Divinos despertando para a condição.



Com ou sem grandes ou notáveis alterações, é o sistema que nos leva a querer sempre mais das informações, a buscar o domínio do dito " conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva "
E me lembro de quantos morreram em defesa da ideologia do "Abaixo ao sistema"
e que seguiram a intuição que se respira nos dias de alegria imprevista e riso inesperado...
...choro contido ou escancarado...
E se entregaram...
...àquela graça gratuita de se ver vivendo as circunstâncias que foram o sentimento inicial para a criação de todo e qualquer personagem,
com cujas almas já contracenei,
com cujos sangues, já sofri,
com cujas vidas aprendi que todo ponto de partida é conjunto
é simultaneamente ligado entre nós,e as estrelas.
Entre nós e o espantoso imprevisto dos cotidianos interligados.
Entre nós e a surpreendente invisível rica linha da simplicidade.

domingo, 31 de agosto de 2008

Será este o retrato do seu ego?

Puxa...quantos significados...mas dessa vez eles ficam por sua conta.

Ha_____________ha_____________ha!

Cegueira seletiva.



Estamos vivos.
Estamos vivos?
Afirmar ou indagar nos permite também negar.
Tudo depende da forma como se encara a vida.
Há os que crêem que viver está intimamente ligado a apegar-se: seja aos seus bens, coisas,matéria, pessoas ou a si mesmo(Talvez o pior tipo de apego,pois leva ao culto do ego, consequentemente a um egoísmo exacerbado que limita sua visão).
Há os que crêem que viver é ter prazereres desenfreados ou resultados imediatos para suas ações(e a tão famosa paciência firma suas raízes no segundo plano,quando nunca deveria sair do centro das atenções). Encaixemos aí a intenção exposta de receber por suas ações, de agir segundo tudo o que pode voltar até ou para você.
Há os que crêem ainda que viver está ligado a perseguição de informações e teorias, pois essas permitem alcançar posições importantes perante os outros e perante a si mesmo(e aquele caminho do ego, anteriormente, pode passar por aqui também). Portar informações permite imposições que nem sempre têm razões de existir,mas como permite também a ilusão de mando e comando, claro que será desejada e admirada por muitos. Mas o pior de tudo com as informações é pensar que nelas encontraremos todas as respostas...e nos tornamos caçadores delas,e ficando cegos ao porquê da caça, seguimos com armas em punho, defendendo-nos do que não pareça passar pelo crivo da cultura, dita "erudita". É vergonhoso confessar,mas já incorri neste erro de buscar fora as respostas para meus questionamentos interiores, para as ânsias que meu corpo por completo:histórico e independente de tempo desejou.
Felizmente o sagrado e o rotulado profano (que nem o é tanto assim) sempre interferem em meu caminho. E consegui descobrir a obviedade que informação nada mais é que um conhecimento vivenciado por outraS pessoaS...Insisto:por outras pessoas.Enquanto descobrir que Eu posso vivenciar meus próprios conhecimentos, e claro,aprender com aqueles que já foram experimentados por outros, mas sem me submeter a eles é magia interna,única mas nunca deve ser abandonada. É de escolha de cada um ouvir esta voz própria,consciência, livre arbítrio-seja lá o nome recebido- cabe ao Eu decidir...mas sempre conscientes de que as sinalizações e avisos do sagrado nos chegam,sempre...insistentemente eles se expõem ao nosso redor,no contato com pessoas que nos dizem coisas que tocam, nos fatos, nos pequenos e grandes acontecimentos que vivenciamos.
Um dia pensei que a cegueira poderia ser induzida...talvez sim,mas hoje estou certa que ela é apenas induzida àqueles que querem e consentem. "Ninguém te faz sentir inferior sem o teu consentimento"....Ninguém te faz sentir nada sem o teu consentimento. Não me canso de repetir porque entender alguns preceitos com tudo:de corpo e alma,requer treinamento,repetição,hábitos positivos enraizados.Nossa cegueira seletiva encarrega-se em teimar que a gente se contente com o mundinho que ela permite enxergar,e nada além.Triste se permanecermos nesta cegueira...já que tão visível é que :"O desconforto anda solto no mundo...e você sempre junto ,e você sempre atento ao que menos importa."Por dádivas divinas e vontades sinceras humanas, é possível alcançar uma luz que mostra a sabedoria dos lugares e pessoas mais simples.

Os maiores sábios nasceram nos lares mais humildes e mataram suas sedes de informação em suas águas pessoais, e junto àa "água viva" que Deus oferta gratuitamente a todos nós,todos os dias, junto ao sopro que nos permite olhar tantas dinâmicas de cores, tantos gestos dinâmicos de espírito, tantas coisas além do que nossos sentidos humanos podem chegar...e a alma consegue alcançar. "O carpinteiro de Nazaré entalhava madeira com as mãos e com palavras, a emoção humana. Como pôde alguém de mãos tão ásperas ser tão hábil em penetrar nos segredos de nossa alma, de incendiar os corações?" Jesus foi grande e é o mais enfatizado hoje...(não sem razão)...mas...Tantos são os mestres,tantos são os sábios...e como Ele, muitos não expõem orgulhosamente seus diplomas em paredes que um dia cairão, mas o levam em seu recanto interno, no altar do coração...e a esses são reservados os melhores lugares, o maior lugar :o da verdadeira e inquestionável paz.


Não me cabe rotular,julgar ou apontar os cegos seletivos. Mas me cabe alertar a fim de atentar a quem deseja ser livre, a luz que existe em volta e por todo o redor do tapa olho tecido em nós...e que podemos retirar.
Se de tuas mãos não envias a felicidade nas mãos de outro ser, mas compreende que a ti,e somente a ti ela pertence...Se teus olhos ainda absorvem um pouco de luz e captam aquilo que não se pode ver e apenas sentir, sinta...estás vivo? Estás cego? Após responder a tais perguntas...tranforme-se. Transcenda-se.

"E a fé que me foi dada,conquistada, me veio como um sopro ao instrumento, criando vida e me dando o que de melhor há em mim: o amor e a compreensão de que através de mim mesma e de minha centelha divina,posso alcançar os céus...e quem sabe ainda, 'informá-lo'a outros para que percorram por si próprios,seus próprios caminhos...e céus pessoais,que nada excluem e nada julgam."


sábado, 23 de agosto de 2008

Até quando com as heresias...?


Se olharmos para o planeta Terra como uma fundamental peça de um grande jogo, compreenderemos que a combinação entre tantas outras peças é que permite que a gente avance, progrida, ainda que os dados lançados nem sempre permitam que o processo seja rápido. Quando se vê um jogo de cima,apto Se É para observar diante das regras,aonde ir e o que fazer,...até mesmo sabe-se a que ponto chegar para que seja necessário quebrá-las, e ainda que não existam objetivos ou vencedores,seu olhar alcança o Todo, o Tudo e então pode-se perfeitamente escolher para onde e com quem ir.
É apenas um jogo onde todos participam,cada um dentro de sua realidade construindo seu caminho. Mas...se seus olhos começam apenas a entender as limitadas minúcias, apenas as estabelecidas regras , o risco de andar para o lado "errado" é grande,e leva tantas vezes a tendências individuais, de realidades que mal se esperam e mal se encontram em si mesmas... A grande sacada em todo o grande e belo processo harmônico da vida é que uma hora você deverá voltar ao caminho,mesmo que desvie-se dele, um processo de correção tomará conta de você,seja você consciente ou não...Seja a realidade mental,racional, psíquica , física ou instintiva, comunitária e global, estão todas entrelaçadas à Consciência Espiritual, que permite um Coração Universal,que propicia a compreensão das diferenças,o movimento e a união de tudo aquilo que que foge a compreensão humana.
E então não mais julgamos,ou esperamos apenas ganhar,como mandam nossos medíocres instintos...mas sim aprendemos os velhos valores da tolerância,do respeito, da aceitação perante aquilo que É, seja como for, É, e Pode Ser, sem que homem nenhum aponte o dedo com suas sentenças inúteis. Seja lá qual for a pessoa que você escolheu ser neste jogo, não importa o que dizem as más línguas e os rotularadores de plantão : seja você homem,mulher, homossexual, gay, lésbica, religioso,ateu, espiritualista, pobre ,rico,classe média, pertencemos todos à condição humana e esta infame condição não nos permite julgar a ninguém ou coisa nenhuma, porque nos mantêm a parte da dança que o Universo e o organizador Maior nos propõe. Apenas supomos,e já bastam as tormentas provenientes de tantas suposições. Não é a toa que Shakespeare, imortalmente, lançou a máxima: "Herege não é aquele que arde na fogueira,mas sim aquele que a acende." Até quando iremos contra coisas instituídas com formas tão agressivas de encará-las?
Permita-se amar àquele que te incomoda, e então nascerá uma natural aptidão à evolução em seu ser.
Há uma continuidade da vida após qualquer morte, sejam às que enfrentamos aqui,nesta realidade terráquea, seja às que enfrentamos dentro de nós, tantos dias, que com urgência recorrem ao renascimento da visão perante uma situação e fato.
Reveja certos pontos de vista e inspire a mudança que o próprio caminho da humanidade está propondo,a todo e vertinioso momento. Tudo se torna melhor e mais leve quando mantemos nossa consciência,visão, sentidos e extra sentidos amplamente abertos.






domingo, 3 de agosto de 2008

Da consciência do preconceito e afins.


Eu me lembro,quando era pequena, da proibição de meu pai,ou mesmo a repressão de certos parentes ou amigos quando eu me aventurava a conversar com aquelas pessoas consideradas "excêntricas" ou filhas de mães que por algum motivo que eu não entendia, "não prestavam".
Eu batia o pé e quebrava a cabeça.
Porque teimava em manter as excentricidades e porque guardava a dúvida e a mágoa por não entender aquela ordem de afastamento.
Mas me divertia.
Era como pular uma cerca e entrar em um lugar proibido para cometer o prazeroso ato de pegar a fruta que diziam ser do vizinho,o "dono" da propriedade.
Eu nem sabia que árvores tinham donos e nem que seus frutos não eram livres para serem de quem os quisesse.
E assim eram para mim as pessoas.
Eu burlava as regras naquela época e brincava,corria,gritava e ria...uma risada esquecida,mas vez por outra manchada com aquela culpa de não obdecer as minhas pequenas leis,que regiam a minha infância e juventude.
Acho que foi ali que conheci essa palavra horrenda chamada culpa. Sem perceber, comecei a andar de ombros encolhidos e a ficar corcunda.
Um dia me abriram os olhos e disseram que aquilo não era postura de menina-moça. E devia eu,aos olhos deles, estar com vergonha por aqueles seios que despontavam.
Mal sabiam eles que era a culpa que me pesava.
Por não ir de acordo.
Por agir contra os meus pais,que eram meu mundo,minha segurança e garantia -pela primeira vez eu cometera o pecado de discordar deles,e aquilo me doía até onde eu não podia mais.
Passou o tempo e então descobri que discordar não diminuía em nada o amor e o respeito que tenho por eles,mas me ajudava mesmo era a entender o amor por mim. A entender que o amor por mim abrangia o amor por todos os seres,sem exceção.
Até mesmo aquela de quem falavam mal,e o homem bêbado e o mendigo que um dia falou comigo. E hoje,abrange todos aqueles que não se encaixam em padrões que a sociedade,visivel ou invisivelmente,constrói. Ainda o poeta ,o artista ... o visionário,o sensitivo, o louco,o triste... e todos que vivem à margem das coisas comprovadas pela ciência,mas que me valem muito mais que qualquer compreensão humana e científica das coisas. Porque me auxiliaram no caminho e demonstraram que maiores são os laços de amor,amizade e de sentimentos que não fazem distinção entre as pessoas...e permitem um olhar maior,amplo, rastreando lugares,sentidos e coisas que aqueles que criam as grades da separação e do preconceito,nunca verão.
É por essas e outras que não abro mão de ninguém.
E triste daqueles que não abrem as portas para a oportunidade de olhar dentro dessas almas, de uma maneira tão simples como permite o hábito de conversar,ouvir e desligar todos os sentidos para ver. Triste daqueles que não abrem as portas para a sabedoria e uma tão grande compreensão, que apreende sentidos,pensamentos e emoções.Estão perdendo a chance de ser mais do que isso que são. Estão perdendo a chance de crescer,estão perdendo a chance de evoluir,ascender. Estão perdendo a chance de SER.

domingo, 20 de julho de 2008

Ritual de aspersão.


Entrou e viu as flores secas cobertas pela poeira daqueles dias secos,quentes e vazios.Artificiais.
O silêncio infiltrava-se naquela atmosfera dourada e azul dos dias de sol,por entre a sombra das árvores e as brechas em cada espaço com luz.
Observou que ali estiveram mas o vento interveio e logo levou para longe o único vaso das flores que ainda tinham vida original,soterradas em um pedaço de terra,agarrando-se à seiva como quem agarra a última esperança.
Depôs suas poucas coisas rente ao chão e fechando os olhos,reviu as cenas vividas ali,junto àquela que lhe doava o sorriso gratuito e mais puro e terno de sua vida.
Tomou as flores secas por entre as mãos,arrancou-as...e levou-as até a água que jorrava.Lavou cuidadosamente cada uma delas e retirando a densa camada de poeira com as finas gotas e desajeitados dedos,deixava vir à tona tudo que tinha evitado reencontrar. O cheiro,os cantos,o lugar,a vida que passara ali. Juntou àgua ao pequeno vaso distante e o preencheu com o pedaço de terra que dele tinha sido separado, unindo-o finalmente à esperança. Balançou intensamente cada uma das flores:não mais importavam se eram artificais ou não,perduravam e ali estavam,em sua mão,pedindo cuidado,negando o abandono.
Era uma voz conhecida, que ouvira vinda de seu próprio ser, a quem por tanto tempo negligenciara,deixando-o criar raízes perante tanto abandono,pensando que cuidando de outros seres poderia alimentar-se. Mas não se alimenta nada e nem a ninguém quando se sente a própria fome escavar-lhe as entranhas. E com aqueles simples gesto,balançando ao vento aqueles ramos,sentia como se mandasse para longe tudo que lhe oprimia o espírito.Deixando a água voar, chegar ao seu destino e secar,reconciliara-se com seu passado.Reconciliara-se consigo mesma e,disposta a não mais perder-se de si deixara aquele lugar,surpreendida de que ali existissem restos mortais quando tanta vida jorrava dela.
Não muito distante dali um garoto soltava pipa.E ela dizia então a si mesma que melhor imagem não haveria para selar aquele compromisso.Ela compreendia.Estava livre,enfim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

E mesmo com tempo vago,o cansaço me pegou...




Um cansaço de quem olha para os lados e não reconhece o seu lugar,um cansaço de sentir escrito em seu ser a consciência de rumos, a incessante percepção de que além daquela cortina que havia em tantos olhos,havia mais. Um "mais" que ela podia enxergar e entender,com sua sensibilidade ou com uma intuição maior que não lhe era compreensível,mas presente...
Perder-se nem sempre é tão trágico quanto parece. As sombras que antes pareciam fixas, oscilam e por segundos intermináveis,parecem sumir. As pessoas,que também antes pareciam fixas, agora já se movem para longe,como tanto desejou a atriz e agora, em vida real e perdida dentro de sua solidão,procura recuperar seu próprio movimento na tentativa de abordar aqueles que permitirem cohecer sua nova versão.
Alguém a chamara de olhos de céu. Isso ressoara em seu antiquário de lembranças e a ligara com aquela frase que mal podia suportar relembrar: "Eu não aguentaria...é força demais para mim...a força dos teus olhos."
Conciliava agora um passado tão nítido com um presente tão ausente daquela presença que chegava a doer de uma dor fina uma camada de sua proteção.Talvez estivesse se rompendo,como rompem o que achamos um dia permanente,mas também estivesse simultaneamente consolidando aquela luz ,daquele Inesquecível Ser, abrangendo e constando em si as coisas que sabemos eternas.
Olhos de céu...Achara uma bela expressão... e talvez ainda seguindo o padrão da defesa dissera: o céu muda e junto às estações,tráz características peculiares e,nos últimos tempos,diante de tamanha galáxia,vive de imprevistos e tempestades,cometas e meteoros, lava de sol e chuva ácida.
Este céu pode até ser bonito,mas não estável. Será que isso é motivo para causar oscilações naqueles que lhe querem ser amigos?
A ânsia por tocar e transmitir outras consciências partira da compreensão de seu próprio propósito existencial. Mas agora já conhecia também as barreiras. E qualquer fortaleza está vulnerável aos "nãos" e aos "brutos" atos dos que um dia tentou acolher...às "próprias defesas" de quem também procurava em vão,construir sua própria armadura em fortaleza...
Tenho que ser sincera,sou mesmo assim,instável...e tenho medo disso a ponto de já dizer claramente e logo,como céu ao amanhecer de um dia de sol,que complexa e embaralhada é minha personalidade,mesmo com espírito receptivo,ainda não se encontra facilmente quem coloque ordem ao baralho das torturas,das alegrias,das mágoas,das bonitas sensações,das lembranças que marcaram-se para sempre atrás daquele céu,onde um Universo Inexplorado envolve mistérios que embora tão impetuosamente vivenciados, ainda não lhe cabem conhecer...

From the soul heart mother...to the atom heart daughter.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Just an old question...and now,I have the answer!



...But IT is a SECRET.

From a movie...to the real life.




Em uma tarde de férias,nostálgica e cheia de lembranças,o céu parece mover-se e a vida parece parar.Não há lugar e tempo que a impeçam voltar e relembrar os projetos de uma pequena garota que um dia sonhou fazer a diferença enquanto vive.
A forte e nítida sinalização de que não pertencia ao aqui e agora chegava a lhe causar uma vertigem límpida,uma vontade de correr e regressar para dentro da luz,num ponto onde apenas ela poderia alcançar.Por enquanto,esta luz não lhe cabia.Alimentavam-na as ternas recordações do abrigo onde pousara seu ser quando criança,e as sombras tão próximas,eram o jejum que permitia outro olhar sobre as pessoas e suas ações. Nada era proibido,nem incompreensível. Mas já não consentia que lhe desperdiçassem as forças com todos aqueles relacionamentos errados e não recíprocos. Era preciso entender a diferença entre "sofrer muito e sofrer bem",entre viver e morrer,entre a equivalência de sombra e luz.Era preciso agarrar a identificação positiva com personagens,pois ali estavam seu próprio jeito de ser e agir,sua essência em tudo que faz mas com a certeza de que vivia uma história real e cheia de conflitos que agora conseguia enfrentar.
E um dia contariam sua história,como se não existisse,mas com aquele gostinho de quem entende a mensagem de uma história de valor.

Abaixo,a redação de Leslie,personagem do filme "Ponte para Terabítia",cuja autora deste blog tanto se reconheceu que resolveu aqui "imprimir":

Aparelho autônomo de respiração para mergulho.

Eu sigo em frente bem devagar...
...Um mundo lindo e inexplorado abaixo de mim...
Flutuo silenciosamente e o som da minha respiração quebra o silêncio.
Acima de mim,nada além da luz trêmula,que é o lugar de onde eu vim e é pra lá que eu voltarei depois.
Estou mergulhando-Eu Sou uma mergulhadora.
Vou mais fundo...vejo pedras rugosas e algas escuras...
Na escuridão azul vejo um cardume de peixes prateados aguarda...
Enquanto estou nadando bolhas saem de mim e sobem oscilando como se fossem águas vivas. Verifico o oxigênio. Não tenho tempo para apreciar tudo. Mas é isso que torna a experiência especial.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Liberdade Contratual...


Férias!Na conversa com as pessoas,nas mensagens,no ar,no vento,na vida de quem pertence ao meio público,seja trabalhando ou usufruindo,é o momento de encontrar-se em período de férias...Encontrar-se...(?), poder olhar para si e ter tempo livre para ir e vir,liberdade para gastar cada minuto com nada ou com o tudo que sempre se imaginou e quis,mas a correria do cotidiano não permitiu.
Há tempos eu não me sentia livre para acordar,livre para dar atenção a minha gatinha de estimação,livre para o ato tão simples de comprar um sapato e poder passar alguns minutos conversando com a vendedora,sem aquele olhar mal humorado de quem está sempre com pressa,mas sim com a desinteressada e gratuita conversa de quem quer apenas compartilhar a simpatia de sentir-se livre.
Livre de uma liberdade que não invade o espaço do outro mas explode por todos os meus próprios espaços,deixando-me ouvir a música que tão bem retrata o que hoje sinto:
Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos
Sobre os mastros no ar
Soltei os tigres
E leões nos quintais
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Mandei fazer
De puro aço luminoso punhal
Para matar o meu amor e matei
Às 5 horas na Avenida Central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer..

Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes, procurar, procurar...

Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Entre meu nascer e morrer,muitas mortes,muitos (re)nascimentos e a feliz descoberta que andar pela rua sem preocupar-se com a ilusão do tempo dá mais alegria do que se pode imaginar e que as nuvens,as árvores,as ruas com suas esquinas sinuosas,nos recebem de braços abertos e nos pedem olhos e ouvidos atentos para todas as vertentes daquilo que habitualmente não vemos.
Quando a gente está cuidando da gente....,não sentimos necessidade de brigar, de correr, de beber,comer tanto...e de descontar em qualquer forma de fuga nossas insatisfações mais escondidas.
Não precisamos fugir de questões como a de uma grande amiga(esta da foto=) ) :"Sabe o que eu acho estranho?Todo dia acontece alguma coisa comigo...pode ser até ver alguém cair...risos...mas acontece sabe....e ....tem pessoas que...não acontece nada..."Pois bem,sabemos o motivo?Essas pessoas se acomodaram e você não...elas esperam que as coisas cheguem até elas,vão morrer esperando e isso é triste.Desde sentar na frente da TV...sem conceitos,apenas para deixar a mente viajar...e poder pensar em ficar mais tempo...Ou simplesmente lavar roupa de biquíni...rsrsrs...
Poder ter o prazer de fazer o que se gosta...Em mim, escrever e soltar o que me corrói,escrever sobre o que me sufoca...escrever não apenas como válvula de escape,mas com prazer de quem saboreia um sorvete num dia de sol...é permitir-me ser eu mesma sem travas ou grades. Ouvir a inspiração que vem daqueles sentimentos obscuros que poucos têm vontade ou coragem para falar: medos,incertezas,inseguranças,saudades,lembranças...e tantos outros que são iluminados mas por brilharem tanto as pessoas também têm medo...de ofuscar,de modificar,e tocar as outras pessoas...A vida é mesmo uma caixinha de surpresas quando a gente começa a amar a vida,elas aparecem,nossa mente reage...e o espírito segue junto,rumo a projetos antes não arriscados por falta da tão amada liberdade,gratuita,imensa,incomensurável dentro daqueles que ousam agarrá-la sem as mãos.

Que sejam contratuais os meus dias de liberdade...de férias...deste "tempo livre" para olhar a mim mesma...mas são meus,e deles jorram a minha redescoberta onde aprendi enfim que:

"Não tenho tempo para mais nada. Ser Feliz me consome muito ..."


sábado, 12 de julho de 2008

E precisa de título? (...sem comentários...)


Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente...
Desculpa.
Tudo que vivi foi profundamente.
Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços,guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre,não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse possibilidade
De eu me inventar de novo.
Desculpa,desculpa se te olho profundamente, rente à pele
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços,
A ponto de ver a estrada muito antes dos teus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente!"
(DESCULPA - Texto Ana Carolina - Adaptação unindo trechos das obras do poeta gaúcho Fabrício Carpinejar e do poeta russo Boris Pasternak)

Vejam o texto no show em Curitiba,no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=deMqHtYNKl8

Falas tocantes...


Você já ficou em algum lugar onde ouve coisas que todos concordam menos você?Pois bem,isso geralmente acontece comigo...Não que eu seja sempre do contra,mas continuando com a idéia de "transformação",geralmente tenho pensamentos que entram muito em conflito com "as tradições"...
Impossível eu não citar aqui a fala de um outro grande amigo ao conversar comigo sobre esta sociedade cheia de mudanças...que tão bem entende a importância de sermos "agentes de transformação" e não simplesmente acomodados frente ao que já existe e ao que está como está.Mudanças precisam acontecer...mas quão difícil é mudar se há uma corrente puxando e dizendo que permaneçamos os mesmos...com as mesmas atitudes,erros,medos e inseguranças.Independente de visão religiosa,crenças,vontades...acredito que não nascemos nesta época de transição por acaso...

Lá vai:

"Sobre o certo e o errado; o bom e o ruim; o verdadeiro e o falso - ainda que existam os comentários de outros e de outrem (aliás, eles fazem questão de comentar!), penso que você seja capaz de discernir e optar entre um e outro. Ouvir os outros vale a pena, contudo, somente até um instante em que o seu crivo permita.A moral (o que é certo e o que é errado) está estabelecida e não é um jogo que dependa de mim ou de você. Ela existe e acabou. No entanto, e por nossa sorte, a moral pode ser pensada. É aqui que entra o seu senso racional e crítico. A isso dá-se o nome ÉTICA!
Jose, minha querida, você já teve todas as aula sobre vôos. Voe!Puxa, estica, retraia, solte... é você e somente você.

Quanto mais livre você for, mais liberdade você exigirá para si mesma."


Devemos mesmo deixar que os medos e inseguranças cresçam a tal ponto de forma que não sejamos "agentes de transformação" aqui neste mundo? E se eu acho que estou aqui justamente para ser uma?

Repetindo...

Jose, minha querida, você já teve todas as aula sobre vôos. Voe!Puxa, estica, retraia, solte... é você e somente você.

Quanto mais livre você for, mais liberdade você exigirá para si mesma.

Sociedade em transformação


É o início do século e,como não poderia ser diferente,os conflitos entre o que foi,em outros tempos,estabelecido,e o novo(que espera encontrar o seu lugar)nos ataquem de repente,nos momentos que menos esperamos. Lidar com cada conflito é só para quem tem jogo de cintura ou,quem sabe improvisar muito bem.
Tantos subitamente me cercam,de muitos não saio ilesa,mas em todos eles procuro refletir a respeito,lembrando-me daquele já citado conceito de história que uma professora da quinta série ensinou e tão bem gravei:"estudar história é importante pois conhecer o passado nos faz entender o presente e assim,tentar mudar o futuro".
Mudar...
Quanta gente tem medo disso? Incontáveis...
Espiritualmente falando estamos em uma nova era,a de Aquário,onde somos os responsáveis por nossos atos e chegamos a um ponto de "humanidade" que devemos decidir entre transformar os nossos erros em acertos...desde os erros ambientais,quanto sociais,profissionais,familiares ou de qualquer ordem que envolva a vida.
Humanamente falando,é o caos...Pais,filhos,pessoas perdidas frente a coisas como o homossexualismo,drogas,comunicação em massa,informação rápida e tantas vezes distorcida. Engraçado é observar aqueles que têm medo de falar abertamente sobre tais assuntos,com respeito ao outro,sem tentar convencê-lo de qualquer ponto de
vista e buscar a unidade dentro de todas as diferenças.
Recentemente me vi envolvida em um debate sobre "expor-se" ou não,"manter contato" ou não ,"mostrar" ou "não mostrar" coisas pessoais em ferramentas como orkut,MSN,e por aí afora. A idéia de perdermos a privacidade,como já mostrava George Orwell em seu 1984 e o seu "Big brother" é inquietante e gritante de uma tal forma que as pessoas preferem ignorar outras,esconder o que "classificamos"como pessoal,particular, ou coletivo,geral...Apelos não faltam e existem aos montes os dramas e as desgraças de quem "se expôs" demais e acabou pagando caro por mostrar
dados pessoais nesta rede em crescente mutação. Sequestros,ameaças,infâmias,mentiras,montagens...sim,sim,sim...tudo existe.Tá,é fato.Mas e daí? Por isso devemos nos cercar de todos ao nosso redor e deixar de sermos transparentes e falar da vida por inteiro,como ela é,com alegrias,tristezas,morte,vida,problemas? É tanta desvantagem ser transparente e dar um voto de confiança aos outros e assim compartilhar e ajudar aos que passam por conflitos tão intrínsecos que não fazem idéia de como sair? Vamos então voltar à Idade Média e regredir,fechar as nossas casas como nos antigos castelos de muros altos e fortalezas,barricadas que nos permitam depois guerrear contra aqueles que "invadirem a nossa privacidade"? Será que de guerras já não estamos cheios? Por quanto tempo vamos errar?
Sempre falo em bom sensoe quanto a esse assunto não é diferente.
Se tanto me amedrontaram já por causa das "exposições" a que me submeti e também
com as "ameaças do orkut",não devo esquecer que por causa desta mesma "exposição",
muitos já me deixaram extremamente felizes por depositarem em mim confiança o suficiente para compartilhar problemas e resolvê-los,junto a mim,com menos dor e mais aprendizado.
Eu já tive medo,eu já me escondi e já andei por esta rede de forma oculta...até o dia em que comecei a observar a grandeza dos danos causados pela omissão.
Pessoas que vigiam todos os seus tipos de relacionamento com aquele ultrapassado intuito de manipular e possuir formas de punir a atitude do outro quando estas levam a qualquer outro lugar que não o ego de quem manipula...Casamentos desfeitos,confianças abaladas,quebradas...destruídas. Não é teoria,é por passar pela experiência que hoje penso:se a privacidade é extremamente importante por nos permitir a liberdade de sermos quem somos,igualmente o envolvimento com a vida e as pessoas também é. Omitir-se e preservar-se a ponto de não conhecer coisas tão vastas nesta rápida existência é,no mínimo,degradante ao ser humano,divino,mental e espiritual que existe em cada um de nós.

E como bem diz um grande amigo meu:
E um dia você constatará que tudo era simples demais, mas também constatará que não há tempo para mais nada. (ED)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Bilhete sem réplica.


Querida Mamãe,Minha Criadora:

Vou sair lá pelas 19 para viajar para dentro de mim mesma.
Volto aos 27.
Não se preocupe que levarei minha insegurança e voltarei com ela refeita.
A carona é garantida pelo Pai dos meus medos.

Beijos,
de seu amor próprio,
"EU"

Venda sua carência pela bagatela de seu amor próprio.


Notável.
Um pessoa apóia-se em outra,concede-lhe todos os direitos perante sua vida,permite a ela que saiba de todos os seus sonhos,desejos,medos e até frustrações. Caminham assim,lado a lado,como muletas que sustentam um "amor" infinito,eterno,único e tudo o mais.Apoiando-se a elas,desenvolvem a dependência,tantas vezes também chamada de subordinação voluntária,em que as partes se prestam explicações,justificaticas,e rendem tributos altíssimos como a própria liberdade de ser quem se é,esquEcendo-se e anulando-se em nome do outro.
É meu amor pra cá,lindinho pra lá.Se você não for eu não vou. Se você fizer isso eu me magoarei.Se trouxer aquilo será o fim.Se agir dessa forma não gosto mais de você...Hum,e se uma das partes declarar independência,e por um momento não mais apoiar a carência extrema,o relacionamento(lógico!) acaba.
Ao reler tais palavras imagino os múltiplos olhares de horror quando lerem algumas "verdades"(Tá,a verdade é relativa e o que pode ser verdade para mim não é para você...sei disso!). Como pode alguém que não me conhece,julgar-me,classificar-me,adequar-me assim a esta classe de um carente subalterno?
Bom,tudo é questão de observação intínseca. É questão de admitir a própria experiência em que tanto de meu ser foi oferecido sem que eu mesma olhasse para mim e desse o real valor que cada ser deve dar a si próprio,por sua singularidade,particularidades,unidade...
Basta passear um pouco pelo mundo virtual,ou até mesmo pelo real,e olhar com olhos atentos as manifestações dequem já sentiu na pele o fim daquilo que um dia se chamou eterno. "AMIZADE ETERNA? PURA "BALELA!" "QUE SEJA ETERNO ENQUANTO DURE."
Assumir a vida sem ter barrancos de apoio e olhar-se,como uma ser divino em potencial,capaz de amar-se primeiro e antes de tudo,todos e qualquer coisa que fuja a isso para só depois,ofertar o sincero amor para alguém .
Transfira-se estes dizeres também para quaisquer outros tipos de dependência,como aquelas que existem entre familiares,entre amigos,...qualquer dependência que sufoque.
Enquanto não se tem a liberdade para seguir o seu ritmo,entender,aceitar(para poder transformar) e conhecer a fundo seus defeitos e suas limitações, de forma que caiba somente a você e com toda sua percepção redefini-las,nada será amor...aquele amor incondicional,aquele amor amplo de abraçar os erros e não manipular o outro, aquele amor de entrega que não visa seus próprios interesses ou vise apenas suprimir carências antigas de uma alma em evolução.Ou involução,daí é da preferência do cliente no varejo ou da valorização ou desvalorização das moedas que valem sua alma.
Como dizia uma antiga frase de impacto para mim:"O barco está seguro se permanece no porto,mas não foi feito para isso".
O barco não está cumprindo com sua função se permanece atrelado ao porto.Está desperdiçando o motivo para existir.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Em expansão...? Ou dispersão...?



Nem sempre nos é muito fácil conviver com tantas pessoas ,dia a dia,olhando nos olhos delas e percebendo que dali saem reclames de atenção,que levam no bolso um guia chamado espelho e tanto se preocupam em decifrar perante ele os defeitos que a maquiagem corrige que esquecem de olhar para onde o espelho não alcança: o interior e a essência,os desajustes que o Ser único e o ser perante os outros clamam por reparos.
Abro o jornal e me deparo, letras grandes e vermelhas,o título:Use a beleza como arma de sedução. Ah,pras cucuias!
É importante cuidar-se,sentir-se bem,estar bonito(a)? Sim,óbvio. Mas tudo que é demais sobra...
...Tantas garotas e garotos nem bem formados já se preocupam e perdem demasiado tempo em colocar o brinco,a marca ou o "look" do momento para atrair algum outro ser,que também está em formação e por isso ainda não pode compreender a importância de construir-se,edificar propósitos,sentidos e significados pessoais,que...embora co-dependentes de outros seres é pessoal e intrasferível.
Estou cansada de observar pessoas que incansavelmente se auto-observam.
Estou cansada dos motívos fúteis para uma existência única e quero os grandes questionamentos,quero o abismo,a brasa que queima e arde quando nossas dores nos são tão grandiosas que é preciso parar e verificar o significado da vida. É, ele não está no dicionário.
Ampliar está relacionado a tal sentido,expandir os olhos "além do que se vê",procurar nas coisas informes ou mesmo disformes aquilo que ainda não foi estabelecido e alcançar a liberdade de quem realmente É.
Deslocar-se de si mesmo é o maior risco que alguém pode cometer.
Eu me sinto tantas vezes tentada a nele incorrer,mas logo me lembro do tamanho dos enganos,frustrações e da dor que podemos ter quando fugimos de quem somos...seja lá o motivo:carência,medo,insegurança.
Internet,sociedade,cotidiano e vida afora mostram estampado em tantas testas o tal do "olhem para mim,me queiram,me desejem".Mas o que de fato fazem para serem amados?
Hoje em dia a maior lei em vigor é exigir do outro...É esperar que o outro nos venha com as ações e soluções...quando nos basta mudar o foco de visão de nosso próprio umbigo para nossa vida interior.
A transformação parte da gente!
De dentro de mim saem as sensações de pavor e aflição ao notar que tanta gente ainda caminha para os perdidos caminhos do demasiado zelo da auto-imagem,em detrimento da corrosão interna ,do superficialismo e da falta de opinião.
É aos meus olhos um grande escândalo a superestimação dos méritos físicos, da vileza da superfície, da indignante reafirmação daquele sentimento de auto afirmação.

A tais pessoas,o meu nojo,o meu vômito,os meus pêsames!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Onde levam certos limites...

Estava cansada...Seu corpo cheirava a horas de exposição a pessoas,fatos,falas e explicações.Levava uma dor pelo papel no sapato que deveria ajudá-la a se encaixar naquele número.Não adiantou. Pela manhã caminhou com as dores,enquanto outros papéis lhe doíam na consciência,carregava aquele sapato-pedra a que se submetera por causa do frio.
Colocou-se a observar,simplesmente.De onde vinha aquela alegria gratuita de pessoas aparentemente inferiores a ela,de classes sociais,econômicas e culturais minoritárias...?Os simples trabalhadores do comércio,dos postos de gasolina...a olhar-lhe e oferecer-lhe serviços com uma brincadeira e dar-lhe o troco como se fossem milhões.De onde poderia ter surgido toda essa força para os que firmemente trabalham e ainda encontram formas de sorrir? O operador que,pela roupa suja de óleo ou graxa,não pude distinguir ...era sei lá .Mas estava a cutucar o ombro do amigo e a esconder-se levadamente para que o amigo procurasse quem fizera aquilo.Bela cena!As mãos sujas não impediram os cumprimentos e o sorriso de reencontrarem-se. Suas próprias forças pareciam se esvair om trabalhos árduos,assim como acontecia com a alegria...mas de repente estava ela ali,tendo o espanto da alegria inusitada,com os papéis no sapato e na cabeça,a esvoaçarem e,numa tentativa de não deixá-los fugir,repisava e revisava todos os afazeres ainda a serem cumpridos. E para quê?
Ah,as marcas.Elas ficam.(Ficam?) Ao menos a palavra dos fortes e sábios sobrevivem a séculos.Mas onde estava a sobrevivência de seus atos diários?Nos testes que além de tudo lhe chegavam depois das horas de entrega do que considerava o seu melhor?
Acreditava vez em quando que sua parte contribuiria para a grande transformação. Aquela,onde seres e matérias e práticas se integram e absorvem esta alegria natural e espontânea dos que vivem para servir...Aquela,onde os quesão servidos não sentem incômodo ou tristeza por isso,mas dispõem-se a ajudar e tornam-se todos,servidores e servidos. [...]
Guerreiros serviam a seus mestres...Descobrira por acaso que os antigos samurais também tinham por significado em tão honrado nome a palavra servir.Mas,e os mestres,servem a quem? É mesmo servidão incondicional quando se chega a limites de paciência e solidão?
Tantas visões e aprendizados nada significavam para aquele alegre frentista...para a alegre senhora que cedia-lhe a passagem,para os alegres anônimos que por aí espalhavam sua simples alegria tão desejada.
Desenfreada estava ela a soltar seus papéis.Os da responsabilidade,o de anulação,o de compromissada demais por aquilo que considerava tão certo mas...não tinha alegria.
Papéis lhe eram dados o tempo todo.Resistia.Tropeçava com o sapato que insistentemente lhe saía do pé.Mas persistia ainda mais e botava-se a caminhar...fosse pelo orgulho,pela teimosia,ou pela simples pretensão de não se saber quem era.Tantos lhe mostravam e indicavam caminhos que sedentamente percorrera.
Viveria no futuro do pretérito?Ou libertaria-se para aquela alegria dos que não medem o tempo,mas sim,a intensidade com que vivem suas vidas?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Encontrado...

Eu não tenho uma mala...
Nem tão pouco o conserto para meus dentes não sadios...
Trocar os óculos que me cegam a visão do que mais tenho de bonito também não me é possível.
O que eu tenho,tenho e basta.Está feito.É água corrida de rio que já passou,não se pode ficar olhando para aquilo que vai,nem mesmo para o que vem.
As gotas estancadas é o que me sufocam,a condição humana (e eu diria,duvidosamente:seria maldita a condição humana?Não fossem as lembranças ternas que hoje me restam e a esperança de que estou aprendendo as lições que necessito,eu diria sem relutar que sim.)Bem,seja lá como for...é condição. E determina os fatores que me prendem ao que hoje sou e onde estou.Pressenti quando o caos se aproximava.É geral. Tantos insatisfeitos com tantas coisas.Suas vidas não vistas,palavras não lidas,ouvidas,compreendidas.Tantas nem faladas.Tantas pessoas se escondem.
Acham que encobrindo o que sentem, tapeiam a si, a Deus assim como conseguem tapear a sociedade.Nem todos têm a coragem. E a quem não se omite,ainda culpam.
Mas bem,eu não tenho uma mala. Agora,já não posso partir,ainda não. Mesmo que eu queira,não tenho a bagagem,faltarão-me essenciais artefatos...
Entre tantas coisas eu me pergunto...O que é superação?
Sei que ela não depende somente de mim. Depende de outras partes,estações,bagagens,vivências... Depende de uma série de fatores que precisam agir em conjunto. Não posso me arrastar sozinha em direção à estação puxando a mala cheia de coisas que estão na direção contrária.

Eu vou até aonde meu coração e minha alma mandam,mesmo que só...e que me acompanhem os que também buscam e querem a simples e grandiosa superação.

E que chegue o trem,levando-me até tudo que hei de querer para mim,levando todos para o que querem para si...para que então a reconstrução,o novo,sobreviva e inteiramente se dê.

sábado, 5 de abril de 2008

É assim,simples e...fatídico.






"É isso aí...

Os passos vão pela rua...

Ninguém reparou na Lua...

A vida sempre continua..."




sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ah,o amor...


Fora criada com a sutil idéia de que o amor chegaria em sua vida e transformaria as farpas em belas gotas de luz,alguém a procuraria para encher-lhe de vida...(Risos!E já não bastava chegar aqui e ter a vida para enfrentar,levar,desenvolver?)
Ah,claro, referiam-se a uma vida com cenas de cinema e finais felizes,a utopia que sustentara sua adolescência e certa fase de criança,quando ainda achava ideal e maravilhoso o amor entre seus pais.
Começou então a ver o avesso dos sonhos que tantos canais e pessoas e mensagens e comunicações deslanchavam sobre seu ser.
"Amor é quando a gente mora um no outro"-dizia o poeta. Então se uma só pessoa levar seus mais íntimos pertences à morada do outro e não ver o sinal dos íntimos pertences deste outro não é amor? Talvez eu não seja tão "poetizada" assim,e minha idéia deste sentimento ultrapasse paredes,aluguéis,compras,vendas ou empréstimos de qualquer coisa que seja.
"Amar não é aceitar tudo-Ser tolerante ou ser condescendente não significa estar em harmonia do fundo do coração". Pois a estas palavras sagradas digo amém!Não aceito tudo,mas amo,e por amar é que não aceito tudo.Não aceito as afrontas ao meu ser,não aceito as afrontas que os seres delegam a si próprios e não percebem,não aceito que percepções me sejam dadas para serem jogadas ao fundo do meu ser,elas devem ser setas,choques,qualquer coisa que seja movimento,mas não a inércia,a inércia não!
No avesso de tudo que idealizei um dia descobri que o amor faz sacrifícios e se espera recompensa (pois real de amar é não esperar) é apenas a recompensa de ver o ser amado progredir,aprender a lidar com suas próprias emoções,com os fatos que o machucam e sair de todos eles com um estado maior de ... de... amor? Por si,pela vida,por tudo?
Amar é também lutar dia a dia para que a força não despedace,é buscar nas coisas mais simples um motivo para existir com vontade,ânimo(que vem de ânima,alma...),é procurar entender que cada passo faz parte do propósito de nosso espírito...e que sair antes que termine o filme nos é indigno,mesmo que os passos direcionados por nosso livre arbítrio nos faça sentir pequenos tantas vezes.
"Só se vê bem com o coração-o essencial é invisível aos olhos"
Tantos sentidos e sentimentos inomináveis e invisíveis me inundam hoje...e tudo que eu gostaria é que as pessoas que tenho em mente ao escrever isso avançassem...Não como quem avança um sinal vermelho e corre riscos inúteis,mas como quem avança em uma prova que teste os próprios limites,os próprios hábitos arraigados,a própria pedra que carrega dentro de si sem lapidar...e dê-lhe forma,de preciosidade,de raridade,de ser único e valioso como só podem enxergar além aqueles que amam...
Crescei-vos,seres que me arrancam os pensamentos,as preocupações,a futilidade e a profundidade de meus minutos e energia.Por amor,Crescei...
(Ainda que seja para depois morrer...estarás salvo e verás que a morte sim é que era o verdadeiro nascimento...)
[Eu vos amo...]

sexta-feira, 28 de março de 2008

As grades do medo e do egoísmo.


É fácil dizer a todos que acredita em tantas coisas,que tem coragem para enfrentar as mais variadas situações,que com você as coisas correm sempre bem,que a preguiça não te ataca nem mesmo a má vontade em agir perante algumas circunstâncias. Mas como já disse alguém, "há uma grande ponte entre falar e fazer". Basta passar por uma situação em que precise das pessoas,basta precisar do testemunho de alguém para defender-lhe de um ataque que tantos viram,dentre estes tantos não se encontra um que tenha a atitude de enfrentar a situação e ficar do seu lado ou,ocasionalmente ,encontrará apenas alguém elevado o suficiente para não permitir-se a omissão.
Em reuniões de meu trabalho,muitos levantam as vozes para falar do acontecimento do dia,querendo demonstrar com suas palavras o quanto faz e "É" dentro de seu ambiente profissional...Mas quando se fala em união perante a humilhação de um dos nossos,ou mesmo de um ser humano,que tem vida como nós, as vozes se calam. Em palestras tantos depoimentos sobre fatos bonitos e felizes,mas ali,no dia-a-dia,quem é mesmo que cumpre tudo que sua consciência lhe dita como certa,esta,que ninguém nos pode roubar a não ser nós mesmos? Estou indignada,e mesmo que ninguém leia, aqui está uma das minhas formas de desabafo.É bom viver e agir sempre de forma a não precisar de ninguém,a adquirir independência o quanto possas pois quando precisares,na prática,de alguém que te defenda,poucos serão aqueles que NÃO se acovardarão.Nem de longe estou pregando a auto-suficiência,porque esta também não me é bem vista,pensar que se pode tudo sozinho é no mínimo,um ato de egoísmo. Mas infelizmente a realidade nos pede firmeza,que sejamos capazes de arrancar fora as ervas daninhas o quanto pudermos,e virar mesas de templos humanos irracionais,dentro de cada um,como fez Jesus com atitude ao mandar fora os mercadores...Atitude?Não sei mais onde encontro isso,está cada vez mais rara. E depois ainda perguntam por que a justiça em nosso país é tão ruim ou porque existem tantas pessoas que abusam do poder,da falta de bom senso, da liberdade que possuem mas que esquecem que termina "quando começa a do outro" e do quanto o respeito hoje em dia virou um artigo de luxo.

Tão bem retrata este meu sentimento,depois de passar por delicada situação o poema "No Caminho, com Maiakóvski" que era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930)e que hoje dizem ser de Eduardo Alves da Costa,brasileiro. Não sei de quem é ,mas o sentimento humano presente independe dos nomes,creio que muitos de nós sentimos isso...


"[...]

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."


Fotos[ Do Blog maravilhoso da Cris: http://www.pedacosdepessoa.blogger.com.br/)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Descobertas...aos poucos,dia-a-dia,se levanta um pouco o que nos cobre a visão...


Não sei. Mas dizem que desde a gestação a criança sente os sentimentos da mãe, as energias ao redor dela, as impressões circunstanciais... que literalmente ficam impressas no feto. É, se esta tese existe de fato, posso ser a prática e a prova dela.
Enquanto no útero, minha mãe sentia a “morte” de sua própria mãe. Aquela, que me vira com míseros três meses por ultra-som e me comparara a um certo ser;belo,de forma tão carinhosa.
Foi-se. E eu ali,a esperar mais seis meses para sair ao mundo que minha avó tão pouco tempo atrás deixara...claro,não por obra do acaso,talvez trouxesse a minha mãe um pouco de vida. Mesmo que depressões pós parto e pós tantas coisas negassem isso.
As conexões, o que se criou a partir de cada situação e fato vivido, a formação do que chamo caráter, tudo respirava vida, sufocada; mas vida.
E por falar em sufocar com certeza também não foi obra do acaso que desenvolvi-me e nasci assim, comprimida pela pressão... pressão alta de minha geradora,que ao me fazer vir a esta suposta luz, não pôde impedir-me de sufocar e de precisar de cuidados respiratórios instantaneamente.
Claro, isso me deixou seqüelas...e deram o diagnóstico de que demoraria mais para andar. E o tempo faria notar que minha coordenação motora deixaria a desejar... rsrsrs.
Pois bem, passos lentos, raciocínio desenvolto. Os anos mostraram aquilo que se pode superar, aquilo que não nos vem ao caso. “Que o Senhor me dê serenidade para aceitar aquilo que não se pode mudar, coragem para mudar o que posso e sabedoria para distinguir a diferença”.
Ah, o Senhor... quantas vezes Lhe indaguei onde era luz,onde escuridão,se trocava de fato um lugar pelo outro. E de indagações não me privo até hoje.
Embora me inquietem, elas me garantiram a independência, a vida simples, mas pessoal e particular que hoje me cabe.
Pois bem, o tempo passou e a inversão de papéis chegou... Chegou à hora da Mãe reunir-se àquela de quem um dia precisou separar-se... E visitar onde a filha estivera....Seria a luz,antes da escuridão?Ou a escuridão, antes da luz? Talvez exista só luz, a escuridão seja mesmo projeção apenas...
Então as indagações, mais do que nunca, se apresentaram... Sensações, fatos, pessoas com quem cruzava lembravam-lhe aquele olhar de imensidão, aquela não nítida visão de que algo além existia por detrás de todos os ciclos, os tormentos, as escolhas.
Quantas vãs escolhas, mas necessárias... para provar ao ser difuso o que era necessário aprender,empreender,aceitar,transformar...
Quantas belas escolhas,belos momentos, eternos,que nunca irão se apagar.
De nenhum arrependia-se...
Mas a visão não nítida, ah! Seria ela a causadora das incompreensões,
da não aceitação de que certos seres humanos agissem tão friamente frente aos investimentos extra-físicos e de invisíveis,infinitos espaços que ela procurava,tentava... doar,perceber,transcender?
Se é de tempo que se necessita para se ter razão, este ser não o sabe. Entendeu à duras penas que a razão apenas é, integrante de um ser inteiro,físico,mental,emocional,espiritual. Aprendeu, também sem falsos (e até sinceros) sorrisinhos que o tempo existe somente para aqueles que nele acreditam, para quando necessário e para o necessário... fora disso,não há limitação. É a nossa roupagem humana que nos vincula a falsas idéias, ilusões errôneas que desnorteiam por vezes toda uma vida.

Ah, impressões... venho informada que no papel leva-se de três a seis meses para se decomporem...em um pano,de seis meses a um ano...no vidro,um milhão de anos... E em mim, Senhor... e em mim?