segunda-feira, 19 de maio de 2008

Onde levam certos limites...

Estava cansada...Seu corpo cheirava a horas de exposição a pessoas,fatos,falas e explicações.Levava uma dor pelo papel no sapato que deveria ajudá-la a se encaixar naquele número.Não adiantou. Pela manhã caminhou com as dores,enquanto outros papéis lhe doíam na consciência,carregava aquele sapato-pedra a que se submetera por causa do frio.
Colocou-se a observar,simplesmente.De onde vinha aquela alegria gratuita de pessoas aparentemente inferiores a ela,de classes sociais,econômicas e culturais minoritárias...?Os simples trabalhadores do comércio,dos postos de gasolina...a olhar-lhe e oferecer-lhe serviços com uma brincadeira e dar-lhe o troco como se fossem milhões.De onde poderia ter surgido toda essa força para os que firmemente trabalham e ainda encontram formas de sorrir? O operador que,pela roupa suja de óleo ou graxa,não pude distinguir ...era sei lá .Mas estava a cutucar o ombro do amigo e a esconder-se levadamente para que o amigo procurasse quem fizera aquilo.Bela cena!As mãos sujas não impediram os cumprimentos e o sorriso de reencontrarem-se. Suas próprias forças pareciam se esvair om trabalhos árduos,assim como acontecia com a alegria...mas de repente estava ela ali,tendo o espanto da alegria inusitada,com os papéis no sapato e na cabeça,a esvoaçarem e,numa tentativa de não deixá-los fugir,repisava e revisava todos os afazeres ainda a serem cumpridos. E para quê?
Ah,as marcas.Elas ficam.(Ficam?) Ao menos a palavra dos fortes e sábios sobrevivem a séculos.Mas onde estava a sobrevivência de seus atos diários?Nos testes que além de tudo lhe chegavam depois das horas de entrega do que considerava o seu melhor?
Acreditava vez em quando que sua parte contribuiria para a grande transformação. Aquela,onde seres e matérias e práticas se integram e absorvem esta alegria natural e espontânea dos que vivem para servir...Aquela,onde os quesão servidos não sentem incômodo ou tristeza por isso,mas dispõem-se a ajudar e tornam-se todos,servidores e servidos. [...]
Guerreiros serviam a seus mestres...Descobrira por acaso que os antigos samurais também tinham por significado em tão honrado nome a palavra servir.Mas,e os mestres,servem a quem? É mesmo servidão incondicional quando se chega a limites de paciência e solidão?
Tantas visões e aprendizados nada significavam para aquele alegre frentista...para a alegre senhora que cedia-lhe a passagem,para os alegres anônimos que por aí espalhavam sua simples alegria tão desejada.
Desenfreada estava ela a soltar seus papéis.Os da responsabilidade,o de anulação,o de compromissada demais por aquilo que considerava tão certo mas...não tinha alegria.
Papéis lhe eram dados o tempo todo.Resistia.Tropeçava com o sapato que insistentemente lhe saía do pé.Mas persistia ainda mais e botava-se a caminhar...fosse pelo orgulho,pela teimosia,ou pela simples pretensão de não se saber quem era.Tantos lhe mostravam e indicavam caminhos que sedentamente percorrera.
Viveria no futuro do pretérito?Ou libertaria-se para aquela alegria dos que não medem o tempo,mas sim,a intensidade com que vivem suas vidas?