domingo, 2 de agosto de 2009


Naquela tarde de inverno, senti um ar gelado adormecer os meus pés. Pensava que meus pés e também minha alma adormecida bastariam para deixar todas as coisas em seus devidos lugares, sem mudança alguma ou centímetros a mais ou a menos de qualquer movimento. Eu tentava inutilmente espremer no espremedor de alho, algumas nozes que ficaram de outra estação. Gostava de comê-las com banana, tudo amassado, para lembrar o sabor do sorvete que em tardes felizes, eu costumava ter como predileto. Fiz uma força danada e eis que ...o espremedor quebrou. Terminei de comer o que restava e fui para o quarto.
Em vão tentei pegar a fechadura: também estava quebrada! Voltei à cozinha e peguei o espremedor de limão,tentando fazê-lo funcionar como um tipo de alicate improvisado. Pensava então olhando para aquelas quebras repentinas: podem as coisas sair de suas funções? Podem as pessoas mudar o caminho para que foram feitas? Podem pequenas coisas nos transmitir sinais,coincidências, que há uma semana se repetiam?
Estes pensamentos me inquietavam e eis que ao fazer força para "espremer" a porta e tentar abri-la também aquela "peça",tão específica,...quebrou.
Num devaneio de alguns segundos lembrei-me da origem e do tempo daqueles objetos agora todos partidos. Eram os objetos rotineiros de uma vida em comum que fora alicerçada por almas indecisas, eram sinais remanescentes de uma vida partida de todos a quem dava tanta importância para manter saudável sua vida interior, seus afetos, vontades de carinho e cuidados...eram parte de algo que um dia chamou de família. Agora estava ali,uma vida que decidira começar sozinha, para ver até onde era capaz de chegar. Enchera-me no entanto de sonhos, não estava tão só assim. E descobri então que desertos em preto e branco também abrigavam anjos perdidos. Mesmo mantendo ainda o receio de encontros ,sentindo como se minha própria alma ficasse exposta e todos estivessem à espreita pra classificá-la...dei-me a chance de sair dali. A sensação que tinha, ao caminhar para o então desconhecido,era a de que fui feita pra gritar, e não gritava. Fui feita pra denunciar, apontar...e não o fazia, e talvez nascessem dali aquelas doenças.
Mas no fim do inverno, naquele céu cinza ponteado de azul,no sol baixo dando brecha ao escuro, vi aquela luz acender. Vi coisas que pareciam tão concretas se quebrarem. Senti o rompimento com aquele passado amargo e aquele silêncio insano. Senti também a reconciliação com todos que um dia partiram. Mas a vida estava prestes a mudar. E não haveria meio de estancar a esperança adquirida. Assim também viera afirmar a chuva que,naquele momento, torrencialmente caía.

Um comentário:

lica disse...

Uma Nova Mulher -
Simone

Que venha essa nova mulher...
Com olhos felinos felizes e mãos de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondam o seu coração,
E ponha nos sonhos dos homens
A sede voraz, da paixão
Que venha de dentro , ou de onde vier,
e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher
Livre, livre, livre para o amor....ser assim, ser assim
Senhora das suas vontades
E dona de si livre, livre, livre...
Esse eu peguei emprestado... um viva as tranformações e a liberdade!!bjo!